Hoje decidi interromper o tema "Antes de Falar já Comunico" para abordar um
dos temas de conversa que mais surge no dia-a-dia: comportamento!
Muitos dos pais queixam-se do comportamento dos filhos, do facto de não
pararem quietos, da dificuldade em cumprir tarefas e, com frequência, da
desobediência. Sinceramente, não me parece que haja uma “receita” que resulte
com todos e as estratégias a usar dependem da criança, dos contextos em que
está inserida e da idade. Contudo, aquele que me parece ser um factor
determinante é a atitude dos pais perante as “malandrices” dos filhos. Por
norma, as crianças comportam-se de forma diferente com diferentes interlocutores
porque sabem o que esperar de cada um. A consistência do comportamento do
cuidador é muito importante bem como a atitude que temos perante as birras e as
“teimosias” das crianças. Importa relembrar que elas aprendem muito por
imitação e que os modelos que lhes damos agora terão sérios reflexos nos
adultos que se virão a tornar.
Não pretendo aqui analisar aspectos
comportamentais das crianças, no entanto acho sensato antes de afirmarmos
que existe uma situação de mau comportamento tentar perceber se existem
factores que poderão estar a causar essas atitudes. Alguns dos acontecimentos
que poderão causar stress ou ansiedade estão relacionados com as mudanças na
rotina da criança, como mudar de casa, discussões familiares prolongadas ou
graves, divórcio dos pais, acidente ou perda de alguém querido, nascimento de
um irmão, acontecimentos que afectem a estabilidade dos pais (desemprego,
doença, questões legais, …).
O comportamento não é algo que seja sempre estável nem que possamos
controlar de forma constante e muitas vezes temos que nos questionar se são as
crianças que estão a ser “birrentas” ou se somos nós. Será que hoje não estou
um pouco mais ansiosa/o ou agitada/o? Noutra situação eu chamaria na mesma à
atenção? Por vezes, vejo os pais ralhar aos filhos porque estavam a fazer uma
brincadeira adequada à idade (sim, porque é importante nos lembrarmos que eles
não tem que se comportar como adultos, eles são crianças por isso brincam,
mesmo quando queremos estar sossegados a conversar no café ou a fazer compras, …)
mas não o fazem quando eles são mal educados com alguém ou desrespeitam alguma
regra que conhecem e que já foi imposta antes. Esta inconsistência “confunde” a
criança e não contribui para a sua estabilidade comportamental, havendo mais tendência
para a manipulação.
Este é sempre um assunto de que se poderia falar durante muito tempo e
será certamente novamente abordado aqui no blog. Hoje deixo algumas linhas de
orientação básicas para usar no dia-a-dia.
- Quando a criança procura manipular o adulto através do “chorinho”, das
queixas, amuos, insistindo muito, é fundamental ter mais força de espírito e
não se deixar vencer pelo cansaço. Tenha alguma atenção ao uso de recompensas
(dar doces, pequenas prendas, …) pois se for usado muitas vezes rapidamente se
torna na moeda de troca e só se portam bem quando são recompensadas.
- Procure evitar as chantagens com a criança porque elas aprendem com os
exemplos dos pais e com o tempo “o feitiço vira-se contra o feiticeiro”.
- Diga-lhe claramente o que pretende, não dê ordens contraditórias ou
pouco explícitas.
- Procure evitar frases do tipo “Vem aí o velho”, “Vou chamar o polícia”
ou “Vou dar-te aos ciganos”. Além de ser uma mentira, só contribui para
aumentar sentimentos de insegurança e, consequentemente, alguma agressividade
de defesa.
- Quando a
criança faz uma birra, deve deixar que esperneie, chore, grite, enfim… deixe
que a birra passe sem oferecer nada para que ela se acalme (só está a valorizar
a birra). Quando a criança acalmar explique-lhe com calma e sem julgamentos que
não é assim que obtém o que pretende. Depois
de se ter acalmado deve ser valorizada por o ter conseguido, sem o seu desejo ter
sido satisfeito.
- Se a
criança faz frequentemente birras é porque já percebeu que essa é uma forma de
manipulação que funciona consigo, assim sendo está na hora de alterar algo na
sua atitude. Primeiro, dê atenção à criança quando ela se portar bem: encoraje e
elogie o bom comportamento. Estabeleça uma rotina, pois quando as crianças
sabem o que as espera tem mais tendência a estar mais calmas e a fazer menos
birras. Quando ela inicia uma birra, não valorize, ignore e se possível mude de
divisão da casa.
- Lembre-se
que as crianças gostam de testar os limites dos adultos. Quando lhe diz “não”
deve manter a sua palavra até ao fim. Se não o vai conseguir fazer então não o
faça. Como dizia a minha sobrinha aqui há dias “não é não!” (aprendeu na
escola). E acontece o mesmo com os castigos ou retirada de privilégios. Não
faça aquilo para que não está preparado. Com frequência oiço na clínica: “portaste-te
mal, hoje não há televisão!” mas quando questiono se o pai/mãe vai ser capaz de
manter a televisão desligada lá em casa o dia todo, a resposta “Não, é só até
chegar a casa, é só para ele ter medo”! Sinceramente, acham que a criança leva
a sério?
O mais importante nos castigos é o que se transmite através deles, não
explore exaustivamente o porquê do castigo mas diga-lhe a razão. Seja claro e
firme e dê castigos proporcionais às asneiras.
Como casal, não se devem contrariar
um ao outro nem quebrar as regras impostas por um dos pais. Quando não concordam
discutam em privado o assunto e tentem encontrar um meio termo antes de agir. Tenham
bem presente que aprender a lidar com os “nãos” é fundamental para o
crescimento psicológico da criança, que lhe permite desenvolver mecanismos de
defesa para lidar com as frustrações da vida. Quando não somos assertivos neste
aspecto, e tentamos evitar que as crianças sintam tristeza ou frustração porque
os queremos proteger, corremos o risco de transformá-los em pessoas frágeis e
com mais dificuldade para lidar com os viés que a vida lhes vai trazer.
- Será que
educar está sempre relacionado com repreensão? Ou será antes com respeito? Será necessário uma
palmada para que eles respeitem? Como posso ter uma atitude mais positiva?
Deixo estas questões para uma próxima publicação…
Deixo estas questões para uma próxima publicação…
Imagens retiradas da Internet
Aprender a controlar uma birra é algo sempre difícil. É preciso mostrar sempre uma postura calma, mesmo que por dentro estejamos aflitos. Nunca esquecer que é sempre uma escolha, a criança tem o poder de escolher como se quer comportar, e nós, como educadores, escolhemos as consequências dessa escolha.
ResponderEliminarNem mais Joana!O desafio está em mostrar essa calma e transmitir a sensação que, apesar da birra, temos a situação sobre controlo. Às vezes sinto que os pais precisam de acreditar mais neles próprios.
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