segunda-feira, 5 de março de 2012

"Quito, quito, quito, ..."


Aqui há uns anos trabalhava num gabinete em que uma das funções que tinha era fazer rastreios em escolas e infantários que solicitassem a nossa deslocação. Numa dessas vezes conheci um pequenino de 3 anos que a educadora descreveu como sendo "o mais atrasado na fala". Como habitual, nestas situações nunca levo nada muito dirigido, por vezes até escolho algumas brinquedos ou livros das salas para os deixar menos inibidos e sigo um bocadinho a iniciativa deles. Neste caso acabou por ser um livro bem colorido e com várias imagens fotográficas. Abrimos o livro, ainda sem que o menino tivesse estabelecido contacto ocular comigo, me tivesse dito o nome ou qualquer outra coisa, e ele começou a explorar: apontava rapidamente várias imagens e nomeava todas com "quito". A minha inexperiência na altura não me permitiu ver logo do que se tratava. A educadora explicou-me que a mãe via diariamente antes de dormir livros com imagens na tentativa de lhe ensinar palavras, já que ele não falava ainda. Só aí se fez um click: "O que é isto? O que é isto?"




Escolhi este exemplo para relembrar como os modelos linguísticos nestas idades podem ser tão importantes. A fase do primeiro para o segundo ano caracteriza-se por imensas aquisições (e saliento que a compreensão da linguagem antecede sempre seis meses a sua produção), pelo que o adulto cuidador deve usar um modelo linguístico de fácil imitação. 

Neste sentido, é fundamental evitar o uso de diminutivos: ao dizer “casinha”, “florzinha” ou “gatinho” em vez das palavras correctas só estará a contribuir para atrasar a produção dessa mesma palavra. Usar diminutivos aumenta o número de sílabas, tornando-a mais complexa e, além disso, os sons /z/ e /nh/ são mais difíceis de articular, razão porque surgem mais tarde no desenvolvimento articulatório da criança.

No dia-a-dia procure antecipar verbalmente as situações que vão acontecendo e nomeie as diferentes fases. Esta atitude irá permitir que o seu filho ganhe confiança perante as situações novas, contribuindo para a sua participação. Nestes momentos use vocabulário adequado ao contexto, que seja funcional. A título de exemplo, não importa que a criança saiba a palavra “leão” se as palavras “cão” ou “gato” ainda não são usadas e, principalmente, se fizerem parte do seu quotidiano.

Neste processo, o cuidador deve dar a hipótese de a criança aumentar a qualidade e a quantidade do seu vocabulário, usando “expansões semânticas” , ou seja usar mais palavras para descrever um conceito que a criança já conhece. Por exemplo, para a palavra “bola” podemos usar diferentes adjectivos, tais como: “grande”, “azul”, “dura”, …

Hoje deixo uma sugestão aos pais: analisem os modelos linguísticos que propõem aos vossos filhos e procurem fazer um julgamento da assertividade com que o fazem.    



Imagem retirada da Internet. 
Fonte: 
Rigolet, S. (2006) Para Uma Aquisição Precoce e Optimizada da Linguagem. Porto Editora. 

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