Aqui há uns anos trabalhava num gabinete em que uma das funções que tinha
era fazer rastreios em escolas e infantários que solicitassem a nossa
deslocação. Numa dessas vezes conheci um pequenino de 3 anos que a educadora
descreveu como sendo "o mais atrasado na fala". Como habitual, nestas
situações nunca levo nada muito dirigido, por vezes até escolho algumas
brinquedos ou livros das salas para os deixar menos inibidos e sigo um
bocadinho a iniciativa deles. Neste caso acabou por ser um livro bem colorido e
com várias imagens fotográficas. Abrimos o livro, ainda sem que o menino
tivesse estabelecido contacto ocular comigo, me tivesse dito o nome ou qualquer
outra coisa, e ele começou a explorar: apontava rapidamente várias imagens e
nomeava todas com "quito". A minha inexperiência na altura
não me permitiu ver logo do que se tratava. A educadora explicou-me que a mãe
via diariamente antes de dormir livros com imagens na tentativa de lhe ensinar
palavras, já que ele não falava ainda. Só aí se fez um click: "O que é isto?
O que é isto?"
Escolhi este exemplo para relembrar como os modelos linguísticos nestas
idades podem ser tão importantes. A fase do primeiro para o segundo ano
caracteriza-se por imensas aquisições (e saliento que a compreensão da
linguagem antecede sempre seis meses a sua produção), pelo que o adulto
cuidador deve usar um modelo linguístico de fácil imitação.
Neste sentido, é
fundamental evitar o uso de diminutivos: ao dizer “casinha”, “florzinha” ou
“gatinho” em vez das palavras correctas só estará a contribuir para atrasar a
produção dessa mesma palavra. Usar diminutivos aumenta o número de sílabas,
tornando-a mais complexa e, além disso, os sons /z/ e /nh/ são mais difíceis de
articular, razão porque surgem mais tarde no desenvolvimento articulatório da criança.
No dia-a-dia procure antecipar verbalmente as situações que vão
acontecendo e nomeie as diferentes fases. Esta atitude irá permitir que o seu filho ganhe confiança perante as situações novas, contribuindo para a sua participação.
Nestes momentos use vocabulário adequado ao contexto, que seja funcional. A
título de exemplo, não importa que a criança saiba a palavra “leão” se as
palavras “cão” ou “gato” ainda não são usadas e, principalmente, se fizerem parte
do seu quotidiano.
Neste processo, o cuidador deve dar a hipótese de a criança aumentar a
qualidade e a quantidade do seu vocabulário, usando “expansões semânticas” , ou seja usar mais palavras para descrever
um conceito que a criança já conhece. Por exemplo, para a palavra “bola”
podemos usar diferentes adjectivos, tais como: “grande”, “azul”, “dura”, …
Hoje deixo uma sugestão aos pais: analisem os modelos linguísticos que
propõem aos vossos filhos e procurem fazer um julgamento da assertividade com
que o fazem.
Imagem retirada da Internet.
Fonte:
Rigolet, S. (2006) Para Uma Aquisição Precoce e Optimizada da Linguagem. Porto Editora.
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